A LINHA TÊNUE ENTRE CULTURA, PODER ECONÔMICO E SUCESSO NOS CAMPOS
Esporte é negócio. Que esta frase se torna a cada ano mais redundante, não é novidade. Mas, além da parte que envolve patrocínio, marketing, investidores e receitas, por exemplo, a cultura organizacional de um clube pode se tornar um fator chave para o sucesso nos dias atuais.
Muitas equipes no futebol mundial possuem suas formas particulares de identidade. Na Itália, a filosofia de jogo “catenaccio” é marca registrada por lá. “Porta trancada”, significado da expressão, transmite na partida o modo de pensar e a cultura italiana nos campos. Remete ao processo de reunificação do país, fator marcante em sua história.

Um outro exemplo importante é o da Holanda. Nos anos 70, mais especificamente na Copa do Mundo de 1974, a seleção liderada por Johann Cruyff, lenda do esporte, reinventou o modo de jogar. A peculiaridade da equipe ficou conhecida como “Futebol Total”, maneira de atuar que não delimitava posições fixas dos jogadores e que, com a movimentação dos atletas de linha, tinha a ideia remetida a um carrossel. Um Carrossel Holandês, que era comandado por um dos maiores treinadores da história, Rinus Michels.

A forma de jogar da seleção se relaciona à sociedade holandesa, que tem facilidade em aceitar costumes individuais de outras nações. Os jogadores representavam a liberdade cultural do país. A Laranja Mecânica não conquistou o título mundial, mas transformou os conceitos táticos do futebol. Um marco.

Passando para clubes, alguns merecem destaque por manter sua cultura organizacional aliada ao processo de crescimento do futebol em negócio. O Athletic Bilbao, fundado em 1889, é um exemplo raro de manutenção nacionalista no meio. O time espanhol foi fundado por operários e mineiros britânicos que, posteriormente, se uniram a bascos que haviam estudado o esporte na Inglaterra. Portanto, até 1912 a equipe contava também com jogadores ingleses. Mas, a partir desta data, somente atletas bascos poderiam atuar pelo time. E esta filosofia persiste até hoje. E, detalhe: o conceito não está escrito no estatuto do clube. Ou seja, o time não é obrigado a apenas ter jogadores bascos, mas a filosofia cultural vale mais do que qualquer regra.
Entretanto, existem as exceções. Seis jogadores já defenderam o clube e não são do país basco, mas possuem familiares da região. São eles: Cristian Ganea (hispano-romano, o lateral-esquerdo defendeu o clube em 2018), Vicente Biurrun (brasileiro de pais bascos, foi goleiro do clube entre 1986 e 1990), Bixente Lizarazu (lateral-esquerdo campeão da Copa do Mundo com França, disputou 17 partidas pelo Bilbao em 1996/97), Fernando Amorebieta (ex-zagueiro venezuelano atuou pelo time de 2005 a 2013), Javier Iturriaga (o ex-meia mexicano jogou apenas quatro partidas em 2006/07) e Aymeric Laporte (zagueiro francês, atualmente no Manchester City, entrou em campo 222 vezes pelo Bilbao).

E isso vem dando certo dentro de campo? O Athletic não ganha um título espanhol desde a temporada 1983/84 (possui oito no total), mas recentemente, em 2015 e 2021, venceu a Supercopa da Espanha contra o Barcelona. E mais: é um dos únicos clubes, ao lado do próprio Barça e do Real Madrid, que jamais foram rebaixados.
Um outro exemplo, mas de um clube que não conseguiu manter suas tradições enraizadas é o Benfica. Em um dos primeiros estatutos do time português, dizia-se que apenas portugueses poderiam vestir a camisa vermelha da equipe. Porém, tudo mudou em 1979, quando sócios da Águia votaram a favor de terem jogadores nascidos em outros cantos do mundo defendendo as cores do time. Inclusive, o primeiro estrangeiro a entrar em campo pelo Benfica foi o brasileiro Jorge Gomes da Silva Filho, em 29 de agosto de 1979. Ele também foi o primeiro não português a fazer um gol pelo time.

Nos dias atuais, com a força econômica, é cada vez mais difícil manter uma identidade nacionalista. Outros três clubes europeus merecem destaque por conseguir alinhar ambos os critérios através das categorias de base: Ajax (Holanda), Barcelona (Espanha) e Sporting (Portugal).
O time holandês teve seus tempos áureos nos anos 70, quando conquistou o tricampeonato da atual Liga dos Campeões – 1971, 1972 e 1973. Na década seguinte, a equipe passou por um momento de baixa e grande crise financeira. Inclusive quase não chegou a sobreviver.
O ressurgimento aconteceu nos anos 90, com Louis Van Gaal no comando e mais um título do maior campeonato de clubes do mundo, em 1995. O sucesso veio novamente graças a academia Toekomst, fundada em função da crise econômica que o clube enfrentava. O local foi criado exclusivamente para revelar jogadores de acordo com o valor e a filosofia histórica do Ajax, com o tradicional 4-3-3 do futebol holandês e para seguir o mantra do maior jogador da história do país, Johann Cruyff, que se refere à qualidade e resultado. “Resultado sem qualidade é muito chato; qualidade sem resultado é algo sem sentido”.

Alguns exemplos de sucesso da academia foram: Edgar Davids, Marc Overmars, Patrick Kluivert, Clareence Seedorf e Edwin van der Sar, Rafael van der Vaart, Wesley Sneider, Frank e Ronald de Boer, Dennis Bergkamp e John Heitinga.

Além de refletir os valores do clube, os resultados econômicos e financeiros são evidentes. O objetivo é fornecer, a cada duas temporadas, no mínimo três jogadores da academia para a equipe principal do clube. Consequentemente, a cada sucesso obtido pelos atletas, as negociações com outras equipes geram rendas ao Ajax. Wesley Sneijder, por exemplo, foi vendido para o Real Madrid, aos 23 anos, por 27 milhões de euros.

Além de diversas instalações na Holanda, a academia do Ajax pode ser encontrada em diversos países do mundo, como a Grécia e África do Sul.
Em Portugal, o Sporting é quem se destaca com as categorias de base. Sua academia, a PUMA Academia Sporting10, foi fundada em 2002 e atende 340 jogadores. A equipe é uma das que mais revela jogadores no futebol mundial, e é conhecida por vender suas joias a preços elevados. Aproximadamente 95 milhões de euros já foram ganhos com a venda dos direitos dos jovens revelados pela instituição. Tal sucesso fez com que o clube seja o único até hoje que formou dois atletas que venceram o prêmio de melhor jogador do mundo: Luís Figo e Cristiano Ronaldo.

Já na Espanha, o Barcelona é referência. A La Nueva Masia, Centro de Formação de Atletas do clube, tem como objetivo educar seus jogadores de acordo com a sua cultura organizacional. As principais exigências são: trabalho em equipe, liderança, respeito e ética. Respeitar o adversário é muito importante, assim como destacar o lado intelectual dos atletas, não apenas o futebolístico. Tal essência também contribui para o bom poderio econômico dos Culés.
O sucesso, aliás, ocasionou em um fato inédito: em 2010, os três jogadores que concorreram ao melhor do mundo foram formados pela La Nueva Masia – Xavi Hernández, Andrés Iniesta e Lionel Messi.

Assim como no Ajax, a academia do Barcelona pode ser encontrada em outros países: Japão, Peru, Egito, Polônia, Emirados Árabes Unidos, Índia e República Dominicana.
Portanto, exemplos não faltam para o Brasil também ser um país de destaque na formação de jogadores, tendo em sua essência a cultura organizacional para o sucesso financeiro dos clubes. Por aqui não existe identidade. Mas é possível, sim, ter destaque ao alinhar a essência de seu povo com o fator econômico e o triunfo dentro de campo. Mais próximo a nós, nas Américas, podemos citar mais exemplos: Chivas Guadalajara e El Nacional.
No time mexicano, só atuam jogadores nascidos no país. Johann Cruyff, quando diretor esportivo do clube, tentou mudar a regulamentação para também permitir que atletas naturalizados jogassem pela equipe. Em vão. Foi demitido na sequência. Além de manter suas tradições, o Chivas é o time do México com mais títulos conquistados (29 no total). A junção pode ocasionar no sucesso, diga-se novamente.

E o El Nacional, do Equador, desde sua fundação, em 1960, só permite jogadores locais. Já foi proposto que estrangeiros também pudessem atuar pelo clube. O pedido foi negado. A equipe é a que mais possui conquistas no campeonato nacional. Mais um exemplo a ser destacado e que gera: retorno econômico; financeiro, proveniente de uma boa campanha que faz com que o torcedor compareça ao estádio; e esportivo, com títulos.
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